segunda-feira, 5 de maio de 2008

Comerciantes de Melides contra embargo de complexo turístico


Público, 05.05.2008

Com os negócios em baixa, menos clientes nas lojas e nos cafés, casas para arrendar que ficaram vazias, a população de Melides anseia pelo reinício das obras do empreendimento turístico Costa Terra, recentemente embargadas por decisão judicial.
Os trabalhos foram suspensos em Fevereiro pelo Tribunal Administrativo de Lisboa, que determinou a "suspensão da eficácia" do despacho conjunto dos Ministérios do Ambiente e da Economia que reconhecia a utilidade pública do projecto, na sequência de uma providência cautelar interposta pela associações ambientalistas Quercus e Geota, em Maio de 2006.
Nas ruas de Melides, afirma a agência Lusa, todos reclamam contra a suspensão decretada pelo tribunal, ao mesmo tempo que criticam os ambientalistas por terem travado a construção de um empreendimento que "já estava a ter algum impacto positivo" na economia local.
"Tanto faz restaurantes como cafés como papelarias. Há diferença nas vendas. Tive uma quebra de uns 20 por cento", garantiu à Lusa Dolorinda Pereira, proprietária da papelaria Dina, no centro da aldeia. "Tinha uma vivenda alugada à [empresa de construção] Tecnovia. Aquilo parou e as pessoas tiveram de se ir embora. Agora tenho a vivenda fechada", acrescentou Virgílio Martins.
Empregados de alguns cafés e restaurantes garantiram que também sentiram a falta dos trabalhadores que ali tomavam "pequenos-almoços e algumas refeições", embora se escusem a prestar mais declarações, por não serem os proprietários dos estabelecimentos. O taxista Teodoro Gonçalves, o único na aldeia de Melides, queixa-se igualmente da quebra de negócio, que, estima, deverá rondar os 30 por cento. "Tinha alguns trabalhos daqui para a Costa Terra e por vezes ia levar trabalhadores a Tróia. Acabou tudo logo que as obras foram suspensas", lamentou Teodoro Gonçalves, que acusou o núcleo da Quercus do Litoral Alentejano de ter sido o grande responsável.
Solidário com a população que o elegeu, o presidente da Junta de Freguesia de Melides, Nuno Oliveira, diz que a suspensão das obras está a afastar potenciais investidores que tinham manifestado a intenção de investir na região. "Havia perspectivas de negócio, perspectivas de futuro. O Gabinete de Apoio ao Investidor da Câmara de Grândola teve imensos pedidos de pessoas de Melides", disse Nuno Oliveira. "Muitas pessoas vieram procurar-me para saber se deviam ou não investir. E, de um momento para o outro, ficaram
sem saber se vale, ou não, a pena apostar na região", acrescentou o autarca.
Na providência cautelar da Quercus e do Geota sobre o empreendimento turístico da Costa Terra, as duas associações ambientalistas advertiam que a execução do projecto iria afectar uma espécie de flora prioritária (Armeria rouyana), bem como do habitat natural prioritário (matos litorais de zimbros).
A Quercus considerava também que estava em causa uma violação do direito comunitário por não terem sido devidamente ponderadas eventuais localizações alternativas para o empreendimento, ao contrário do que estabelece a legislação europeia para áreas integradas na Rede Natura 2000.
Confrontado com as críticas da população de Melides aos ambientalistas, um responsável da Quercus disse compreender a revolta dos moradores, mas remeteu a responsabilidade pelo sucedido para as entidades que licenciaram um empreendimento turístico numa zona condicionada pela legislação comunitária.

Sem comentários: